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Brejo Santo,02/05/2025

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Menopausa: invisibilidade compromete acesso ao tratamento e atenção pública


Menopausa: invisibilidade compromete acesso ao tratamento e atenção pública


A menopausa, que atinge cerca de 30 milhões de mulheres no Brasil, segundo o IBGE, ainda é um tema cercado por estigmas e falta de políticas públicas específicas. Apesar de 82% das mulheres na faixa etária do climatério apresentarem sintomas que comprometem a qualidade de vida, apenas cerca de 238 mil recebem diagnóstico pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Esse abismo evidencia o quanto a saúde feminina nesta fase da vida permanece negligenciada.

Sintomas vão além das ondas de calor

Embora os fogachos — ondas de calor — sejam os sintomas mais conhecidos, especialistas apontam que a menopausa impacta muito mais do que o conforto físico. Oscilações de humor, insônia, perda de memória, ressecamento vaginal, ansiedade e até condições graves, como osteoporose, sarcopenia, doenças cardiovasculares e neurológicas, estão associadas à deficiência hormonal característica dessa fase.

“A menopausa não é um processo patológico, mas exige atenção. A mulher que perde a produção de estradiol fica mais vulnerável a doenças que afetam ossos, músculos, cérebro e coração”, explica o ginecologista Diogo Viana, que destaca a importância de diagnóstico precoce e tratamentos acessíveis para evitar impactos severos na saúde e qualidade de vida das mulheres.

Políticas públicas e debate no Senado

O Projeto de Lei (PL) 3.933/2023, em tramitação no Senado, busca inserir a menopausa e o climatério na agenda pública. O texto propõe que o SUS ofereça atendimento integral a mulheres nesta fase, incluindo exames diagnósticos, medicamentos hormonais e não hormonais, e suporte psicológico por equipes multidisciplinares.

Teresa Leitão (PT-PE), relatora do projeto, defende um debate amplo para consolidar uma política consistente. “Precisamos de um texto que realmente alcance os fins sociais, garantindo que as mulheres tenham acesso ao diagnóstico e ao tratamento adequado”, afirmou.

Além disso, o PL prevê a criação da Semana Nacional de Conscientização sobre a Menopausa, com o objetivo de combater estigmas e ampliar o conhecimento da população sobre os impactos dessa fase.

Impactos econômicos e sociais

A negligência em relação à menopausa não é apenas um problema de saúde pública, mas também afeta a economia. Estudos globais indicam que a perda de produtividade relacionada aos sintomas pode ultrapassar US$ 150 bilhões por ano. No Brasil, onde 60% dos lares têm mulheres como chefes de família, a incapacidade de trabalhar devido aos sintomas agrava a vulnerabilidade financeira.

“Como essa mulher vai trabalhar se não consegue dormir por causa dos fogachos ou se sofre com perda de memória? O impacto econômico é imenso, tanto para a mulher quanto para o sistema de saúde”, questiona o médico Diogo Viana.

Desafios de acesso no SUS

Apesar de terapias hormonais e não hormonais estarem disponíveis no mercado, seu acesso é restrito para a maioria das mulheres brasileiras, especialmente as mais pobres. O tratamento adequado depende de uma rede integrada de cuidados que inclui ginecologistas, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas — estrutura que ainda é deficitária no SUS.

Casos como o de Fernanda Carolina Souza, que enfrentou menopausa precoce aos 29 anos, ilustram a dificuldade de diagnóstico e acolhimento na rede pública. “Procurei o SUS várias vezes, mas só consegui entender o que estava acontecendo quando busquei atendimento particular”, relata.

O caminho para uma atenção integral

Embora a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) cite o climatério, a menopausa não tem diretrizes específicas. Especialistas reforçam a necessidade de ampliar o conhecimento médico sobre o tema e de incluir ações preventivas na atenção primária, como exames hormonais e orientações sobre hábitos de vida saudáveis.

“Se garantirmos o acesso a diagnósticos e tratamentos adequados, não apenas melhoramos a qualidade de vida das mulheres, mas também reduzimos os custos do SUS com complicações graves no futuro”, conclui Fabiane Berta, ginecologista especializada no tema.



















Com o envelhecimento da população e a expectativa de vida das mulheres brasileiras alcançando os 80 anos, a menopausa é um tema que não pode mais ser ignorado. Ações imediatas e políticas públicas robustas são essenciais para garantir dignidade, saúde e equidade para milhões de brasileiras.




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